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sábado, 11 de junho de 2011

às vezes


às vezes me parece...
que o gato assobiou
que o mar é de papel
que o tempo parou
que tem marshmallow no céu

às vezes me parece...
que o chão se aproximou
que meu nome agora é téo
que meu cachorro levitou
que seu gosto é como o mel

às vezes me parece...
que só me parece às vezes


auto-retrato


que eu sou?
como saber?
sou o que falam de mim.
o que pensam.
sou tudo que posso ser.
todo mundo.
que eu sou?
como saber?
se um dia você descobrir,
responda-me!
estou louca para me conhecer.


auto-retrato II


eu sou o que sou!
eu sei o que sou!
para quem me conhece,
sou o que pensam de mim.
e para os que não me conhecem,
sou o que falam de mim.
e como isso me afeta:
eu sou o que sou
o que sei que sou
o que pensam
e o que falam de mim
portanto, sou tudo
todo mundo.


o que eu quero de um amor?


o que eu quero de um amor?
quero simplesmente o mais verdadeiro.
quero ser amada e odiada,
na mais pura essência da palavra.
por que não?
quero sentir-me dona do mundo,
possuidora e possuída.
quero ser respirada, tragada, comida,
com a intensidade de uma primeira vez.
quero sentir os pássaros em revoada,
dentro do meu estômago!
... e me queimar as faces
... e me tremer as mãos
morrer de amor, e exalar o cheiro da paixão.
por que não?
quero tudo!
tudo mesmo!
e por que não?


melancolia


quando se esgotam as últimas lágrimas de meus olhos
meu corpo começa a liberar ruídos
a dor dá lugar ao pânico
meus músculos se movem aos espasmos incontidos
e se encolhem, e atrofiam
e ao som de soluços descomunais
sou tocada pela paz exaustiva do vazio
e adormeço

quando acordo
o sofrimento vem me dar bom dia
com um beijo em minha testa

às vezes quero não mais despertar


re(ativa)


quando te vi
não hesitei
arranquei mais um pedaço do meu coração
e atirei nos teus cornos imundos


terça-feira, 7 de junho de 2011

esmola


olhe para mim
preciso dos teus olhos
a vasculhar minhas
entranhas

estranhas
meu modo suspeito
de suplicar em silêncio
para que em mim
se pouse teu olhar?

será que preferes
o súbito grito
contido
que minha boca
não é capaz de proferir?

quando simplesmente
olhas ao oposto de onde
padeço
e permaneço
a esperar
um único
e mísero
olhar


insônia


às vezes me embalo sozinha à noite
sentada na cama
empurro meu corpo
para frente e para trás
repetidas vezes
choramingando canções
sem letras
sem ritmo
sem nada

fico por horas intermináveis
assim
tentando afastar os pensamentos
que me aprisionam a você

até que o sagrado sono
vem me abençoar
e adormeço


e a tela dos meus sonhos
se enfeita de infinitas estrelas
para te receber


desconhecido


não me recordo quando começou
só sei que começou
talvez não me lembre o porquê
pois não consigo conceber o antes
o antes se foi e nem sei como foi
só sei que foi

um dia num lapso de memória
quase vi como era
mas como era
já não é mais
e também passou

fiquei ali, revirando a história
na esperança de encontrar
um sinal no passado
mas passou rápido


já não me recordo quando começou
só sei que começou
e chego à conclusão
que já não dá mais
para voltar atrás


ânsia



eu quero tudo de uma vez
tomar o mundo em dose única


segunda-feira, 23 de maio de 2011

poesia & imagem

Neste mês de maio todas as poesias vem associadas a uma fotografia. Porque onde a palavra, por si só, não alcança, a imagem se encarrega do resto!

falsário II

que amor é esse que seus lábios pronunciam
com frequência e sem querer
tal qual recitassem um rosário
entoando palavras repetidas, superficiais
como a falsa intensidade
do tamanho do sentimento que tens a oferecer?
que amor é esse que precisa ser lembrado a todo instante
para que se convença de sua verdade
e não se importanto a quem se remete?
que amor é esse que necessita ser falado
de olhos bem fechados
para que sua falta de brilho não o condene?
que amor é esse de falsas promessas
e palavras apenas?

foto e arte: Mayara d'Paula

veredas

queria um dia te seguir
para saber o caminho
que teus pés percorrem
todos os dias
indo embora de mim

foto e arte: Mayara d'Paula

sábado, 21 de maio de 2011

sou fonte

sou fonte
de pedra
sem água
seca
entregue
às vontades
ardentes
do Sol
e ele
me queima

foto e arte: Mayara d'Paula

retorno

gosto do seu jeito de me conhecer por inteira
gosto de ver que sabe cada detalhe
dos meus pensamentos
gosto de pensar que tudo vai se resolver
mesmo que você não volte para mim
eu volto para você

foto e arte: Mayara d'Paula

do outro lado do muro (do Vaticano)

Marrocos não é muito além dali
mas seu povo se limita ao muro
que teima querer alcançar os céus
há pedido de indulgências
de ambos os lados
dois ocidentes
diferentes
precisando se orientar
e rezam
e rezam
e temem
e lançam seus olhares ao céu
de um lado a chuva gélida
molha os farrapos
que cobrem corpos mutilados
do outro liga-se o aquecedor
e come-se
e se comem
foto e arte: Mayara d'Paula

sábado, 14 de maio de 2011

timidez

quando estou em sua presença,
deixo que o silêncio me diga quais palavras usar.
e ali, escolhendo entre tantos aforismos e frases de efeito,
que possam te impressionar,
nada me parece digno de abafar o som da sua voz....
deixo, então, meu olhar falar tudo que penso e sinto
mas você não vê, que, vasculhando-te por inteiro,
faço declarações explícitas de um amor contido.

foto e arte: Mayara d'Paula

título

a chuva escurece as cores do chão
e deixa na paisagem:
melancolia
e o cheiro úmido da terra

foto e arte: Mayara d'Paula

terceto

pessoas passam
são multicoloridas
diver[Cidades]

foto e arte: Mayara d'Paula

terça-feira, 3 de maio de 2011

passageiro

que se passa?
que se passa em mim,
quando você por mim passa?
e me transpassa.
e ultrapassa.
por que por mim só passa?

foto e arte: Mayara d'Paula

desabafo

sangra em meu poema
a angústia de um amor
não correspondido

foto e arte: Mayara d'Paula

cabeceira

na lápide que jaz
na extremidade do colchão
em que me deito à noite
pousam flores murchas
sem cheiro
nem cor

foto e arte: Mayara d'Paula